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Já ouvi falar em um órgão chamado entese?

Não se preocupe se não ouviu. Entese é o nome dado ao local de ligação dos tecidos moles (músculo, tendão, ligamento, cápsula ou fáscia) no tecido duro, o osso, entese é o ponto de inserção desses tecidos com o osso. A origem do termo vem do grego, “entherikos” que significa algo que aconteceu ao corpo vindo do exterior e ao longo do século 19 o termo entese foi usado para indicar doenças vindas de fontes externas ao corpo. E somente no século 20 começou-se a usar o termo entese para indicar anormalidades na região de junção entre tendão, ligamento, fáscia, músculos, cápsula articular com o osso.

Entese mostrada no miscroscópio. a. células de osso à esquerda, a interface (entese) no meio e tendão à direita. b. exemplo da organização em esquema. Adaptado de Kuntz et al., 2017.

 

Uma alteração na entese leva a uma doença, chamada de enteseopatia (doença na entese). Como nessa região acontece o encontro entre os tecidos moles e tecidos rígidos, é uma região que está sob um constante estresse. Um alto estresse biomecânico na entese desencadeia uma reação inflamatória com produção de citoquininas, infiltração de monócitos e linfócitos no tecido sinovial, resultando em uma resposta inflamatória articular e induzindo a uma sinovite (inflamação da sinóvia, tecido que produz líquido sinovial) no local de inserção. Como resultado desse estresse biomecânico o osso adjacente reage formando esteófitos (popularmente conhecido como esporão- formação de osso onde não deveria haver). Enteseopatias comuns acontecem na inserção do tendão de Aquiles no calcâneo e no tendão patelar.

Imagem ilustrativa da entese do tendão de aquiles. Adaptado de Kehl et al., 2016

 

No início do processo inflamatório da entese (entesite) acontece uma destruição de fibrocartilagem e aumento de vasos sanguíneos e células que produzem resposta inflamatória, como os macrófagos.

O que não se sabe com certeza, no entanto, é que se esse processo inflamatório, a entesite, é uma lesão primária ou secundária.  A maioria dos estudos são feitos com animais e alguns com humanos e os resultados não são conclusivos para poder caracterizar a entesite como um processo primário ou secundário a partir de uma sinovite, por exemplo.

A enteseopatia é algo comum nas espondilartrites (termo usado para descrever as doenças inflamatórias que envolvem as articulações e tecidos moles). Existe uma pré-disposição genética para as doenças inflamatórias que atingem as articulações, assim a formação da enteseopatia possuem uma influência genética. No entanto, por conta de uma baixa sensitividade para os marcadores inflamatórios ao realizar um exame de sangue o diagnóstico depende de exames de imagens. Uma radiografia não irá mostrar a inflamação e alteração dos tecidos moles, apenas em casos mais avançados é possível observar a formação dos esporões. Assim prefere-se usar o exame de ultrassom ou ressonância magnética funcional para tentar observar os marcadores inflamatórios e alterações crônicas induzidas pela enteseopatia.

Enteseopatia no tendão de Aquiles em um exame de ressonância magnética funcional. Adaptado de Kehl et a., 2016

 

O grande problema é que a capacidade de regeneração dessa região é baixa. A cicatrização da região normalmente resulta em um tecido com menor integridade estrutural e funcionalidade mecânica antes da lesão. E a recorrência de rupturas, após uma fixação cirúrgica, é alta. Por isso os pesquisadores têm estudado novas tecnologias usando bioengenharia para buscar métodos mais eficientes de reconstrução.

Referências:
KEHL, A. S.; CORR, M.; WEISMAN, M. H. Review: Enthesitis: New Insights Into Pathogenesis, Diagnostic Modalities, and Treatment. Arthritis & Rheumatology, v. 68, n. 2, p. 312–322, fev. 2016.
KUNTZ, L. A. et al. Biomarkers for tissue engineering of the tendon-bone interface. PloS one, v. 13, n. 1, p. e0189668, 2018

 

 

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