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Lesão de ligamento cruzado anterior- o que é?

O ligamento cruzado anterior é um ligamento que existe dentro do joelho que se liga do osso do fêmur ao osso da tíbia. Ele fornece estabilidade para a articulação do joelho, junto com o ligamento cruzado posterior, cápsula articular (que recobre o joelho) e os ligamentos colateral medial e lateral do joelho. A função principal do ligamento cruzado anterior é impedir que o osso da perna, tíbia, vá para frente (anteriorização da tíbia).

É uma lesão comum em esportes que tenham

  • Mudança rápida de direção
  • Paradas bruscas / frenagens
  • Redução de velocidade durante a corrida e mudança de direção
  • Saltos / aterrisagem

A grande maioria dos casos, 70-80%, são lesões sem contato que envolvam um mecanismos de aterrissagem, desaceleração e movimento em pivô. Normalmente nos homens acontece mais pela desaceleração e nas mulheres mais pelo movimento de pivô e aterrissagem pois é mais comum em mulheres os “joelhos em X” – joelho valgo.

Existem alguns fatores de risco que podem favorecer com que a lesão aconteça que são da pessoa e fatores externos, são eles:

  • Peso corporal
  • Déficit biomecânicos – pé plano com pronação subtalar e ou queda do navicular, hiperextensão de joelho (aquele joelho travado para trás)
  • Déficits neuromusculares – falta de ativação da musculatura de tronco e glútea
  • Sexo feminino e estado hormonal – clique aqui para entender melhor
  • Genética – que pode favorecer uma frouxidão ligamentar, ter um volume menor do ligamento e côndilos estreitos
  • Cansaço – nível de competição também influência em um pior controle neuromuscular e favorece à lesão
  • Lesão do ligamento anteriormente – é possível romper o enxerto ou o outro lado
  • Sapatos, equipamentos, superfícies de treino
  • Condições do tempo – uma quadra mais escorregadia, por exemplo

 

A figura mostra a queda da pelve, rotação interna, joelho em x (valgo), queda do arco plantar- pronação subtalar = padrões de movimento considerados como fatores de risco.

Normalmente, após a lesão, a pessoa poderá sentir um pouco de dor, sensação de instabilidade, desconforto ao caminhar, inchaço e limitação de movimento – que pode ser causada pelo inchaço.

A lesão pode ser apenas um estiramento, ser uma ruptura parcial ou completa e ter envolvido outras estruturas como o ligamento colateral medial do joelho e menisco medial

  • Grau I – estiramento, mantém a estabilidade da articulação
  • Grau II – ruptura parcial das fibras do ligamento, maior frouxidão
  • Grau III – ruptura total do ligamento, maior instabilidade articular

 

Depois de confirmado o diagnóstico médico da lesão (usando testes clínicos e exames de imagens, se necessário), a pessoa pode escolher dois caminhos: o tratamento conservador ou o tratamento cirúrgico.

O tratamento cirúrgico consiste na retirada do ligamento e substituição por outro ligamento, normalmente utiliza-se enxerto do tendão patelar ou do tendão do músculo semimenbranáceo. Esses casos podem ser feitos quando há ruptura total do ligamento. A fisioterapia é recomendada após o procedimento cirúrgico para favorecer a boa evolução do quadro.

Antigamente acreditava-se que a melhor opção seria o tratamento cirúrgico, para evitar complicações como o desenvolvimento de osteoartrite de joelho, prevenir contra novas rupturas, melhorar a força do músculo quadríceps, aliviar os sintomas e manter a função normal do joelho. As evidências mais atuais mostram que, no longo prazo (5, 10, 20 anos) não há diferenças em relação ao desenvolvimento de osteoartrite, sintomas e função de joelho (exceto para instabilidade – o joelho operado é menos instável). Clique aqui e entenda um pouco melhor porque operar ou não operar.

O que irá indicar o risco de osteoartrite de joelho, por exemplo, é se existe ou não lesão de menisco associada à lesão inicial do ligamento. Quando não há lesão meniscal o risco, operando ou não de desenvolvimento de osteoartrite de joelho é de 0-13% e com lesão de menisco associada é de 21-48%.

Assim o tratamento conservador é preferível. Alguns guidelines * aconselham tratamento conservador entre 12 semanas à 6 meses antes do tratamento cirúrgico sem considerado.

O tratamento conservador, realizado com um fisioterapeuta, irá depender do momento em que a pessoa se encontra. Uma parte importante do tratamento é o treino neuromuscular, leia mais aqui.

No início da lesão poderá ser feito técnicas para controlar o inchaço e aliviar a dor. E no médio à longo prazo o exercício de fortalecimento e propriocepção deverão ser feitos para ajudar com que a musculatura faça um papel de estabilizadores dinâmicos do movimento e tenham uma resposta rápida para auxiliar na propriocepção.

*Guidelines – são consensos da área da saúde baseados nas evidências da literatura.

Referências
FAILLA, M. J. et al. Controversies in knee rehabilitation: anterior cruciate ligament injury. Clinics in sports medicine, v. 34, n. 2, p. 301–12, abr. 2015.
FILBAY, S. R. et al. Delaying ACL reconstruction and treating with exercise therapy alone may alter prognostic factors for 5-year outcome: an exploratory analysis of the KANON trial. British journal of sports medicine, v. 51, n. 22, p. 1622–1629, nov. 2017.
KONRADS, C. et al. Long-term outcome of anterior cruciate ligament tear without reconstruction: a longitudinal prospective study. International Orthopaedics, v. 40, n. 11, p. 2325–2330, 3 nov. 2016.
VAN YPEREN, D. T. et al. Twenty-Year Follow-up Study Comparing Operative Versus Nonoperative Treatment of Anterior Cruciate Ligament Ruptures in High-Level Athletes. The American Journal of Sports Medicine, p. 36354651775168, 13 fev. 2018.

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