Parece que sim.
Há alguns anos aumentou o interesse da comunidade científica em pesquisar os efeitos do jejum. Durante muito tempo tal prática foi questionada pelos nutricionistas e médicos e hoje, com mais pesquisas sobre o assunto parece haver bons resultados. Realizar o jejum é uma prática milenar que está também relacionada à religião. O ganhador do Nobel de fisiologia e medicina de 2016 descreveu justamente o processo de autofagia que acontece na prática do jejum.
Por ser um assunto polêmico resolvemos ler um pouco mais sobre o assunto e trazer um resumo para vocês. O artigo “Efeitos na saúde do jejum intermitente: benéfico ou maléfico? Uma revisão de literatura” ( tradução livre de – Health effects of intermitente fasting: hormesis or harm? A systematic Review) publicado em 2015 se propõe a fazer uma revisão de literatura sistemática (maior nível de evidência em classificação científica) sobre o assunto. Os autores são americanos, da região de Utah e trabalham nos departamentos de cardiologia e epidemiologia genética. O artigo foi publicado no jornal americano de nutrição clínica (Am J Clin Nutr.). O objetivo do estudo é revisar os testes clínicos realizados com humanos.
Há estudos mostrando que a restrição calórica melhora a saúde e longevidade. Um interrupção total de calorias, que acontece em jejum, também tem mostrado resultados positivos em estudos animais. Na verdade, essa interrupção total de calorias parece ser mais benéfica do que a restrição calórica, uma vez que é feita de modo menos frequente e mais intenso. A maioria dos estudos sobre este assunto acontece em estudos animais, há poucos estudos com humanos.
Isto ocorre principalmente porque o corpo utiliza ácidos graxos (gordura) durante o jejum, o que reduz a massa adiposa (tecido gorduroso) resultando em uma redução pequena, de longa duração e que aumenta progressivamente a cada jejum. O estresse causado pelo jejum, em parte, resulta em reparo celular, melhora da função, rejuvenescimento metabólico e que pode melhorar a saúde a longo prazo ao diminuir os fatores de risco cardiovasculares. Há, até mesmo, evidência de melhora cognitiva com o jejum.
Há diferentes métodos de se realizar o jejum. Pode-se realiza-lo a em alguns dias e comer a vontade nos dias que não se realiza o jejum, ou realizar o jejum duas vezes por semana em dias alterados, realizar jejum também líquidos ou consumir água durante o jejum.
Os autores selecionaram cinco artigos com testes clínicos em humanos. Um dos artigos se tratava de um grupo de 32 indivíduos que realizaram o jejum duas vezes por semana e restrição calórica por 12 semanas. Estas pessoas apresentaram uma perda de 6,5% de peso, melhora dos parâmetros cardiovasculares e em outras variações metabólicas como triglicérides, colesterol LDL. Também não houve aumento da ingestão de calorias dos dias em que as pessoas poderiam comer normalmente, o que é esperado quando as pessoas passam por situações de fome.
Outro teste clínico semelhante (2 dias por semana de jejum com restrição calórica por 12 semanas) avaliou alterações de humor mostrando uma melhora geral. Foi observado também melhora em outros parâmetros cardiovasculares como pressão arterial, tecido adiposo.
Em outro teste clínico observou-se que o jejum de 24 horas (a pessoa bebendo apenas água) induziu à alterações nos fatores de crescimento, quantidade de células sanguíneas, colesterol total.
Um grande problemas destes estudos é que não foi avaliado questões de segurança para os indivíduos que passaram pelo jejum e, apenas em um estudo, ocorreu um ajuste metodológico para comparação dos resultados. Isto faz com que a qualidade dos estudos seja baixa. Há também poucos estudos na literatura que avaliem os efeitos do jejum.
Assim apesar de existir evidências que sugerem efeitos benéficos do jejum, falta estudos para avaliar o quão benéfico está prática pode ser, qual o limiar para os efeitos a longo prazo (até que ponto pode ser benéfico o jejum e quando ele passa a ser maléfico) são perguntas que ainda devem ser respondidas. As pesquisas futuras deverão determinar qual o tipo de jejum é seguro e também para qual tipo de população ele pode ser aplicado. Pensando-se em diminuir os custos o jejum poderá ser uma opção segura, se melhor avaliado.
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Referência
HORNE, B. D.; MUHLESTEIN, J. B.; ANDERSON, J. L. Health effects of intermittent fasting: hormesis or harm? A systematic review. American Journal of Clinical Nutrition, v. 102, n. 2, p. 464–470, 1 ago. 2015.