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O que é fascite plantar?

Sabe aquela dor no pé que dá ao colocar o pé no chão logo de manhã? Pode ser fascite plantar. E já ouviu falar em esporão de calcâneo? Saiba que não são a mesma doença.

A fascite plantar é uma das doenças mais comuns que acontecem nos pés, a prevalência da população mundial é de 1 em cada 10 pessoas. Normalmente há dor na região no calcanhar até o meio do pé ao colocar o pé no chão ao levantar de manhã ou após um período sentado. Apesar do incômodo que a dor gera, a maioria dos casos (80%) tem boa resolução em até 1 ano de tratamento.

 

A fáscia plantar é um tipo de tecido conjuntivo denso, composto principalmente por fibras de colágeno tipo I organizadas paralelamente (dá para ver as linhas na figura acima) . Essa organização paralela faz com que a fáscia resista à grandes forças de tração e resistência que ela sofre quando uma pessoa anda. A fáscia ajuda na manutenção do arco plantar longitudinal medial e funciona como um tipo de “mola”.

Acredita-se que o excesso de forças de tração e cisalhamento leve à micro traumas na fáscia plantar que, no processo de regeneração, acaba aumentando de diâmetro. Esses micros traumas são regenerados até certo ponto (que pode varia de pessoa para pessoa) e, a partir deste ponto, não se recupera mais e entra no processo de degeneração.

Conheça os fatores de risco

  • Obesidade
  • Pé plano
  • Pé cavo
  • Contratura (excesso de tensão) no músculo tríceps surral (os músculos da panturrilha).
  • Alguns fatores biomecânicos já foram identificados como o excesso de pronação, pouco movimento de dorsiflexão (levantar os dedos dos pés em direção ao teto) e pouco movimento do dedão do pé (especificamente na articulação metatarsofalangeana), musculatura do pé fraca
  • Aumento repentino de exercício físico ou sobrecarga da musculatura (é uma doença comum em corredores, por exemplo)
  • Sobrecarga ao ficar em pé ou carregar peso durante longos períodos
  • Calçados inadequados (sabia que o salto alto é um fator de risco para a fascite plantar? Leia aqui sobre os efeitos do uso do salto)
  • Com a idade ocorre também a perda do coxim adiposo plantar, um pouco de gordura que temos em baixo do calcanhar que ajuda a absorção de choque ao andar. A Diabetes tipo II é também considerada um fator de risco já que leva a um aumento da grossura da fáscia plantar

A fascite é uma doença que gera uma degeneração da fáscia plantar. É possível encontrar informações sobre a fásciite plantar sendo uma doença inflamatória (o sufixo ite indica inflamação), mas observou-se que isso não é verdade. Não há os sintomas clássicos de inflamação (dor, calor, inchaço, vermelhidão perda de função) e nem sinais histológicos (tipos de células) no local. Há um processo de degeneração. Existe assim, na literatura científica uma sugestão de alteração do nome de fascite para fasciopatia plantar. Isso acontece também com outras doenças que se acreditava serem inflamatórias e depois observou-se que eram degenerativas (tendinites passaram a ser chamadas de teninopatias / tendinose, osteoartrite passou a ser osteoartrose e por aí vai). Pode até ser que comece como uma doença inflamatória e, em algum momento, passe para um quadro de degeneração, no entanto, o momento em que isso acontece ainda é desconhecido. O maior problema para se estudar essas doenças é que é necessário retirar um pedaço de tecido para olhar no microscópio ou só é possível estudar em sujeitos falecidos.

O tratamento consiste em identificar os fatores de risco e buscar eliminá-los ou diminui-los. Por exemplo a perda de peso leva a uma diminuição da dor significativa em pessoas que tem fascite plantar. Deve ser tentado o tratamento conservador / fisioterapia que consiste em exercícios, terapia manual, pode-se usar órteses (palmilhas). Os recursos de eletroterapia (conhecidos popularmente como choquinhos) não tem efeito superior aos exercícios. A exceção seria o laser de baixa intensidade, ultrassom e terapia de choque extracorpórea. Essas técnicas não devem ser feitas sozinhas, mas combinadas com exercícios e terapia manual para que haja um bom resultado.

O uso de medicamento anti-inflamatório não é adequado, uma vez que não há inflamação acontecendo (o medicamento não teria onde agir). A infiltração de corticosteroide também não é recomendada já que há pouquíssimas evidências da sua eficácia, é uma opção de tratamento de curta duração que normalmente precisa de mais de uma injeção e isso pode levar à ruptura da fáscia. O último recurso é a cirurgia, que só deve ser opção após um mínimo de 6 meses de tratamento conservador sem sucesso.

E o esporão de calcâneo?

Esporão é o nome popular para osteófitos, a formação de tecido ósseo em um lugar que não deveria ter osso, normalmente na inserção de tendões. O esporão de calcâneo pode acontecer em dois lugares: na inserção da fáscia plantar e na inserção do tendão de Aquiles. O esporão do tendão de Aquiles é, normalmente, uma adaptação após uma tendinopatia neste tendão, para evitar uma ruptura o corpo adapta e começa a desenvolver um tecido ósseo para deixar o tendão mais rígido (lembra que a tendinopatia é um processo de degeneração do tendão). Normalmente ambos os tipos são descritos em conjunto na literatura, apesar do esporão de calcâneo da inserção do tendão de Aquiles ocorrer mais em recorrência de atividades que envolvam corrida e salto e o esporão plantar ocorrer mais por conta de estresse, como sobrecarga por obesidade e horas em pé. Veja abaixo alguns exemplos nas radiografias:

b- um início de esporão de calcâneo na inserção do tendão de aquiles c- início de um esporão de calcâneo plantar d e – esporões de calcâneo plantar e no tendão calcâneo f – esporão plantar apenas Referência Toumi et al., 2014

 

O esporão de calcâneo plantar não necessariamente causa dor. E o esporão de calcâneo plantar pode acontecer em pessoas que tenham fascite plantar, mas quem tem esporão de calcâneo não necessariamente terá / tem fascite plantar.

O esporão tem uma prevalência maior em pessoas que sentem dor nos pés (59-78%) e doenças como osteoartrose (56-81%). Mas ocorre normalmente em 11-16% da população mundial e não produz sintomas, não há dor. Os fatores de risco são semelhantes aos da fascite plantar.

O porquê essa formação de osso ocorre ainda não é consenso na literatura. Acredita-se que a tração ou forças de tensão (como ocorre ao pular, por exemplo) aumentam o estresse e induzem a formação do esporão de calcâneo. Existe a correlação com esportes que envolvem impacto como correr, e contrações constantes, como o ballet. Outra correlação possível são as forças de compressão ao ficar em pé durante muitas horas sob uma superfície rígida, como em profissões de segurança de shopping. Existe ainda uma correlação com microtraumas repetidos ou microrupturas da fáscia plantar ou do tendão, mais comuns em atletas profissionais.

No entanto, ainda não é claro, na literatura científica se os esporões são uma adaptação normal à essas forças ou um desenvolvimento patológico (anormal). Há um aumento da ocorrência dos esporões de calcâneo assintomático (que não produzem sintomas, como dor) com a idade, por isso sugere-se que seja uma adaptação ao processo de envelhecimento. Há estudos que analisam a população pré-histórica e encontram esporão de calcâneo ( onde não havia casos de obesidade nem interferência de calçados) que sugerem como causa principal a sobrecarga biomecânica de atividades como correr e saltar.

Existem outras doenças que podem causar dor na região posterior do calcanhar, como por exemplo a enteseopatia do tendão de aquiles. Por isso um diagnóstico correto da origem da dor, permitirá um tratamento adequado.

Dicas práticas

Faça um rodízio de sapatos. Evite usar o mesmo sapato durante toda a semana.

Mova seus pés, pise na grama e em superfícies irregulares. Pegue coisas no chão com os pés.

Caso você tenha fascite plantar procure um fisioterapeuta e faça os exercícios adequados. Um estudo americano mostrou que entre os anos de 2007 e 2011 de todos os pacientes diagnosticados com fascite plantar nos Estados Unidos da América apenas 7% buscou um fisioterapeuta. A fisioterapia, feita de maneira adequada, irá acelerar a recuperação e aliviar a dor.

 

Referências
LANDORF, K. B. Plantar heel pain and plantar fasciitis. BMJ clinical evidence, v. 2015, 25 nov. 2015.
MARTIN, R. L. et al. Heel Pain—Plantar Fasciitis: Revision 2014. Journal of Orthopaedic & Sports Physical Therapy, v. 44, n. 11, p. A1–A33, nov. 2014.
SCHWARTZ, E.; SU, J. Plantar Fasciitis: A Concise Review. The Permanente Journal, v. 18, n. 1, p. e105–e107, 17 mar. 2014.

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