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Risco maior de lesão do Ligamento Cruzado Anterior em mulheres

Você sabia que as mulheres tem um risco maior de lesionar um ligamento do joelho chamado Ligamento Cruzado Anterior?

Atletas mulheres tem um risco maior de realizar lesões no ligamento cruzado anterior do que seus colegas homens. O risco de lesão pode ser de 4-6 vezes maior no sexo feminino. Alguns fatores ajudam a explicar essa diferença: maior alteração neuromusculares e biomecânicas, como a largura da pelve; diferenças nutricionais, maior restrição alimentar entre atletas e menor consumo de cálcio quando comparadas aos atletas homens.

Mas essas diferenças não são suficientes para explicar o quão maior é esse risco no sexo feminino. Começaram então a estudar sobre a influência hormonal nos tecidos (ligamentos, tendões e músculos). Ocorre um aumento da frouxidão do ligamento devido as flutuações hormonais normais que acontecem durante o ciclo menstrual da mulher.  Vamos entender melhor como isso acontece

O ciclo menstrual é controlado pelo eixo pituitária-hipotálamo-ovário e envolve uma interação complexa de hormônios com o estrógeno, progesterona, relaxina e testosterona. Um ciclo menstrual típico ocorre em 28 dias e pode ser dividido didaticamente em:

  • Fase folicular 1-9º dia: maior predomínio do estrógeno
  • Fase ovulatória 10-14º dia: o estrógeno atinge seu pico
  • Fase lútea 15-28º dia: os níveis de estrógeno caem e os níveis de progesterona sobem.

O hormônio relaxina começa a ser liberado na fase ovulatória e tem seu pico de liberação na fase lútea. E o hormônio testosterona flutua durante o ciclo, auxiliando na formação do estrógeno. A figura abaixo ilustra as alterações corporais que acontecem durante um ciclo menstrual normal.

Esses hormônios alteram a integridade do ligamento cruzado anterior, diminuindo suas propriedades tênsil, diminuindo a proliferação de fibroblastos* (células que produzem o ligamento) e consequentemente a concentração de colágeno.

Há evidências de maior alteração de movimentos quando há maior concentração de estrógeno sendo liberada. Por exemplo alguns estudos encontraram maior frouxidão ligamentar e valgo dinâmico durante o salto (joelho cair para dentro) e maior rotação interna do fêmur na fase folicular do ciclo menstrual. Outros estudos indicam maior risco de lesão no ligamento cruzado anterior na fase folicular durante atividades esportivas.

O valgo dinâmico e rotação interna do fêmur são fatores de risco para lesões do ligamento cruzado anterior, clique aqui e entenda sobre os fatores de risco.

E quando falamos em ciência, nem tudo é consenso. Existem estudos que não encontraram resultados significativos nas diferentes fases do ciclo menstrual. Outros estudos mostram maior risco de lesão no ligamento cruzado anterior na fase ovulatória do ciclo menstrual. Os resultados diferentes existem e podem ser explicados pela qualidade dos artigos científicos, diferentes populações estudadas, a maioria dos estudos não mediu diretamente os níveis de hormônios das mulheres, baseando-se no auto relato para identificar em qual período do ciclo a mulher se encontrava. Poucos artigos estudaram as alterações dos tecidos moles (ligamentos e tendões) em atletas e o uso de contraceptivos e em mulheres que não menstruam mais devido a baixa quantidade de tecido adiposo, a chamada amenorréia, fato comum em atletas.

São necessários mais estudos e pesquisas para compreender melhor se as alterações são em decorrência da concentração de determinados hormônios ou pelas flutuações que acontecem durante as diferentes fases do ciclo menstrual.

Quando falamos de estrogênio estamos, na verdade, falando de um grupo de hormônios esteroidais (derivados do colesterol) que é encontrado na forma de estradiol, estrona e estriol. Esse conjunto de hormônios atua na maturação e função do trato reprodutor feminino e está envolvido na formação óssea e no desenvolvimento de doenças.

Nos ossos o estrogênio é fundamental para manter o funcionamento normal do tecido, prevenir perda de massa óssea e permitir que se adapta mais rapidamente às sobrecargas biomecânicas e reorganizar a formação do osso de acordo com a direção que uma força é aplicada. A diminuição desse hormônio durante a menopausa da mulher, favorece o aparecimento de uma doença chamada osteoporose (os ossos ficam mais “porosos” e há maior risco de fraturas).

A influência desse hormônio nos tendões e ligamentos ainda é campo de estudo e há mais coisas que não sabemos sobre a capacidade de influência o processo de regeneração, produção de colágeno tipo I (principal componente dos tendões), capacidade de resistência à tensão (tração) e rigidez. De maneira geral o que sabemos até agora é que o estrogênio influencia positivamente a produção de colágeno tipo I quando em determinadas concentrações, quando a concentração sobre ou cai, por envelhecimento, por exemplo, a influência sobre a produção de colágeno é negativa. Também parece haver uma influência negativa sobre a rigidez do tendão, o que favorece à lesões. A capacidade de regeneração e resistência à tensão ainda não há consenso na literatura sobre seu efeito.

*Os fibroblastos são células que produzem o colágeno e estão presentes em várias regiões do corpo.

 

Referências
BALACHANDAR, V. et al. Effects of the menstrual cycle on lower-limb biomechanics, neuromuscular control, and anterior cruciate ligament injury risk: a systematic review. Muscles, ligaments and tendons journal, v. 7, n. 1, p. 136–146, 2017.
BELANGER, L. et al. Anterior cruciate ligament laxity related to the menstrual cycle: an updated systematic review of the literature. The Journal of the Canadian Chiropractic Association, v. 57, n. 1, p. 76–86, mar. 2013.
LEBLANC, D. R. et al. The effect of estrogen on tendon and ligament metabolism and function. The Journal of Steroid Biochemistry and Molecular Biology, v. 172, p. 106–116, 1 set. 2017.

 

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