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Você sabe o que é dor patelofemoral?

A dor patelofemoral é algo comum e multifatorial (vários fatores influenciam o aparecimento da dor). Mas antes de continuar a falar da dor, você sabe o que é a articulação patelofemoral?

A patela (antigamente conhecida como rótula) é um osso na parte da frente do joelho que desliza sobre o fêmur (osso da coxa) quando fazemos os movimentos de esticar e dobrar o joelho (flexão e extensão). É na patela que o músculo quadríceps – o da parte anterior ad sua coxa – se insere. A patela funciona como uma polia, facilitando os movimentos de dobrar e esticar o joelho (flexão e extensão). As partes ósseas que se articulam são revestidas por cartilagem articular que tem como função melhorar a absorção de impactos e favorecer o deslizamento desses dois ossos durante os movimentos do joelho. A figura abaixo exemplifica a posição desses ossos no corpo humano.

Existem diversas doenças que podem causar a dor anterior de joelho. Nesse artigo falamos especificamente da dor que acontece na patela e no fêmur, a síndrome da dor patelofemoral (saiba mais aqui). Os sintomas são:

  • Dor na patela (ou ao redor) que pode ser agravada por atividades que sobrecarreguem a articulação como agachamento, descer e subir escadas, sentar durante muito tempo.
  • Inchaço
  • Crepitação – um barulho como areia ao mover o joelho

Infelizmente ainda não existe consenso da exata causa da dor, havendo diferentes teorias para explicar a sua origem, sendo as duas principais:

  • Alinhamento patelar inadequado que resulta em uma maior pressão entre a articulação patelofemoral
  • Perda da homeostase* (equilíbrio celular) de tecidos em envolta da articulação

O movimento inadequado da patela aumentaria o estresse na articulação patelofemoral, disparando os receptores de dor (nociceptores) presentes no osso subcondral. A figura abaixo ilustra alterações biomecânicas que influenciam no deslizamento inadequado da patela sobre o fêmur.

Queda da pelve, rotação interna, valgo de joelho (joelho em x) rotação interna da tíbia e queda do arco plantar com pronação do pé são alterações comuns presentes em quem sente dor patelofemoral e estão ilustrados na figura abaixo.

Adaptado de Barton & Rathleff, 2016

 

A perda da homeostase dos tecidos que circundam a articulação patelofemoral podem resultar em sintomas. Uma única sobrecarga muito intensa ou sobrecargas repetidas pode fazer com que os tecidos saiam da sua zona fisiológica, ao menos temporariamente, e aumentem os disparos de dor. A figura abaixo exemplifica esse princípio, uma carga alta repetida poucas vezes pode ser suficiente para passar de um ponto no qual seu corpo é capaz de adaptar, levando a perda de tecido. Cargas baixas e com frequência alta também tem essa capacidade.

Outras alterações nos tecidos também podem estar presentes nas pessoas com dor patelofemoral, como alteração nos vasos sanguíneos e nervos próximos da articulação, aumento da espessura do retináculo lateral (o retináculo é um tecido que recobre o joelho e o aumento da espessura tira a patela um pouco do seu lugar), aumento do estresse da cartilagem e conteúdo de osso subcondral.

No entanto é possível ter dor mesmo sem fatores biomecânicos claros. Cada pessoa percebe a dor de maneira diferente e isso pode influenciar na intensidade da dor que a pessoa sente. Por exemplo, pessoas com dor patelofemoral normalmente tem níveis mais elevados de ansiedade, depressão e medo de movimento o que influencia negativamente o comportamento dessa pessoa (deixar de mover por sentir dor). No entanto ainda não está claro quem veio primeiro: o ovo ou a galinha. Pessoas mais ansiosas sentem mais dor ou a dor faz com que as pessoas se sintam mais ansiosas?

Por isso é bom encontrar bons profissionais para poder desenvolver um programa específico às necessidades de cada pessoa. Você pode ter dor patelofemoral sem ter a queda do arco plantar, por exemplo, e fazer o movimento em X somente quando pula ou salta.

Baseado nas evidências atuais o principal tratamento é o exercício. É preciso melhorar a força da musculatura da perna como um todo e do tempo de reação. Uma pessoa pode ter uma perna forte, mas talvez não consiga estabilizar um movimento por falta de coordenação / ativação muscular no momento correto. Assim é importante identificar se é falta de força, potência ou coordenação neuromuscular para identificar qual o melhor tratamento.

Os principais músculos a serem treinados são:

  • Músculo quadríceps (especificamente a parte de dentro dele – vasto medial)
  • Músculos do quadril (especificamente os abdutores)
  • Músculos abdominais e dorsais – também chamado de core.

 

Uma vez identificado o que pode ser melhorado na pessoa, pode-se usar os princípios de prescrição de exercício do Colégio Americano de esportes:

 

É preciso entender que programas de reabilitação de curto prazo, por exemplo de 3-8 semanas, não serão suficientes para trazer os benefícios do exercício físico. As primeiras semanas de exercício atuam melhorando as adaptações neurais (tempo de resposta neuromuscular, frequência de disparo de potências de ação, melhora da coordenação) mas força de fato (hipertrofia) é alcançada com um mínimo de 6-8 semanas de treino.

Para um bom resultado é importante o acompanhamento com um bom profissional e considerar os objetivos da pessoa. O profissional é apto a identificar o que deve ser melhorado e consegue criar um programa baseado no que a pessoa busca – por exemplo, continuar dançando.

Na reabilitação a curto prazo é possível, combinar aos exercícios físicos o uso de faixas adesivas (tapping) e uso de órteses, como palmilhas. Mas não são todas as pessoas que irão se beneficiar desses tratamentos complementares, se uma pessoa não tiver o desvio lateral da patela, o tapping não terá efeito ou se uma pessoa não tiver a queda do arco plantar, não irá adiantar o uso de palmilha. Por isso é importante identificar como a pessoa está naquele momento.

É importante entender que a resolução completa (ficar sem sintomas) talvez não seja possível ao longo prazo. Por isso, para as pessoas que sentem essas dores, é importante a aderência ao exercício físico ao longo prazo e ensinar ela técnicas de massagem e liberação miofascial para que a pessoa possa se cuidar ao longo prazo. Também o controle do peso é importante para que não haja piora da dor.

 

Dicas

Observe se você adapta seus movimentos para fugir da dor, consciente ou inconscientemente. Será que você deixou de fazer algo por medo da dor?

Filme você fazendo os movimentos que causem dor e tente comparar com um conhecido ou leve para o seu fisioterapeuta.

Invista em uma rotina de exercícios.

Procure bons profissionais para lhe auxiliar no tratamento.

 

 

*Homeostase – tendência do organismo de manter o equilíbrio fisiológico e do metabolismo celular para manutenção adequada dos tecidos.

 

Se quiser saber mais, aconselho essa ótima revisão em inglês na qual esse artigo foi baseada:
LACK, S. et al. How to manage patellofemoral pain – Understanding the multifactorial nature and treatment options. Physical Therapy in Sport, v. 32, p. 155–166, 1 jul. 2018. 
BARTON, C. J.; RATHLEFF, M. S. “Managing My Patellofemoral Pain”: the creation of an education leaflet for patients. BMJ Open Sport & Exercise Medicine, v. 2, n. 1, p. e000086, 24 mar. 2016.

 

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