Você já deve ter visto vídeos na internet ou ter um conhecido que consegue mover alguma parte do corpo de maneira bastante estranha. Isso pode acontecer com pessoas que apresentam a hiperfrouxidão ligamentar. A hiperfrouxidão ligamentar ocorre quando uma ou mais articulações sinoviais se movem mais do que é considerado normal. Depois de um trauma, como cair em cima da articulação do ombro, é comum que ela fique mais instável e possa sair do lugar, desencaixar, principalmente quando a recuperação não foi feita de maneira adequada. Agora quando a pessoa apresenta mais de uma articulação com esse excesso de mobilidade, a pessoa pode ter nascido com alteração do tecido conjuntivo que leva à síndrome de hipermobilidade articular. Entenda mais a seguir:
Assista ao vídeo abaixo com cautela! É um caso extremo encontrado na internet…
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As articulações do nosso corpo com bastante movimento, conhecidas como articulações sinoviais se mantém no lugar devido ao encaixe ósseo e pelos estabilizadores estáticos e dinâmicos. Os estabilizadores estáticos são a cápsula articular e os ligamentos que envolvem as articulações sinoviais, ajudando-as a mantê-las no lugar. Os estabilizadores dinâmicos são a musculatura que passa pela articulação.
Os ligamentos são um tipo de tecido conjuntivo denso modelado ou seja: um tecido composto principalmente por células chamadas fibroblastos que produzem bastante fibras de colágeno e fibras elásticas que se organizam de maneira quase paralela. Essa organização permite que os ligamentos sejam bastante resistentes à forças de tensão em diferentes direções. Assim os ligamentos ligam um osso ao outro de uma articulação, mantendo a estabilidade através do movimento. Na imagem abaixo vemos que os ligamentos tem uma organização mais regular, sendo semelhante a um tendão.
A hiperfrouxidão pode ser por motivos traumáticos ou congênitos.
Traumáticos – após uma queda na qual houve uma luxação (saída de um osso da articulação do lugar) com cicatrização ruim dos ligamentos e cápsula, fazendo com que aquela região específica saia do lugar com bastante facilidade. Isso é comum no ombro, uma articulação mais instável que, após uma luxação anterior por queda, por exemplo, pode sair novamente quando a pessoa tentar pegar algo no banco de trás do carro.
Congênito – a pessoa nasceu com alguma alteração que faz com que várias articulações tenham mais movimento do que o normal.
Uma parcela da população possui essa hiperfrouxidão benigna, ou seja, não afeta em nada a sua vida. No entanto possuem algumas características como pé plano e também propensão a algumas patologias na coluna como hérnias e escolioses, torções / luxação no tornozelo e outras articulações. Pelo colágeno ser um dos componentes da pele, é mais comum, também, as pessoas com hiperfrouxiddão ligamentar apresentarem estrias e a pele mais elástica e fina.
Os diagnósticos nos casos congênitos são feitos a partir da clínica, uma vez que testes genéticos para identificar exatamente qual alteração gênica a pessoa possui, são mais difíceis de realizar. Os sinais a seguir servem como sinais clínicos para identificar a hiperfrouxidão ligamentar:
- Encostar as mãos no chão.
- Hiperextensão de joelho ou cotovelo (joelho dobra para trás)
- Encostar o polegar no antebraço
- Dobrar os dedos além do considerado fisiológico
A Síndrome Ehlers-Danlos é um termo “guarda-chuva” que abriga várias desordens do tecido conjuntivo, das mais simples às mais complexas, sendo a mais comum a hipermobilidade articular causada por alterações nos genes de colágeno tipo I, III e IV (existem mais de 15 tipos de colágeno diferentes no nosso corpo, nem todos tem a sua função bem identificados ainda).
O colágeno é uma estrutura grande que tem como principal função a resistir à deformação dos tecidos. Assim a alteração de colágeno tipo I, presente nos ligamentos, torna os ligamentos mais frouxos, fazendo com que a pessoa consiga mover a articulação além de um limite considerado dentro de uma normalidade. A hipermobilidade articular é a capacidade de uma articulação se mover além de um limite considerado fisiológico, além de ser influenciada pela frouxidão dos ligamentos, o encaixe ósseo e a falta de tônus também facilitam com que esse movimento além do fisiológico aconteça.
Além da hiperfrouxidão ligamentar, para as pessoas com caso congênito, a dor, medo e fadiga são aspectos importantes a serem considerados que acabam afetando também a qualidade do sono. O medo do movimento, a cinesiofobia, e a falta de propriocepção (capacidade de sentir o próprio corpo) pode fazer com que a pessoa reduza diversas atividades do seu dia, facilitando com que se instale um ciclo negativo vicioso de desuso, descondicionamento, perda do tônus muscular, flexibilidade, capacidade aeróbica que, pode ajudar a explicar a transição para o terceiro estágio da Síndrome Ehlers – Danlos, no qual os pacientes apresentam várias desordens psicológicas como ansiedade e depressão.
Assim nesse modelo de dor – cinesiofobia – fadiga, em pessoas que com hiperfrouxidão ligamentar, apresentam estratégias para se evitar a dor, como a diminuição de movimento, que irá agravar e / ou causar a fadiga.
Se você têm ou conhece alguém que tenha hiperfrouxidão ligamentar, seja por questões traumáticas ou congênitas, busque um atendimento multidisciplinar para aprenderem a se mover dentro de uma amplitude de movimento segura, evitar desenvolver estratégias comportamentais e cognitivas para fugirem da dor e fortalecimento muscular para evitarem o descondicionamento. A Educação Somática é uma excelente ferramenta para ampliar a consciência corporal e facilitar com que as pessoas possam se mover dentro de amplitudes seguras.
Referência